quinta-feira, 5 de maio de 2011

Séries televisivas atraem jovens para a Medicina Legal

2007-03-27

Virgínia Alves, Lisa Soares

Séries televisivas atraem jovens para a Medicina Legal

Cinco dias de um curso de Medicina Legal quase resumidos numa conversa com o seu coordenador, José Pinto da Costa, que diz que algumas séries televisivas despertaram o interesse para alguns aspectos desta área que não eram visíveis, como o exame do local do crime e a observação rigorosa de todos os pormenores nela encontrados.

Crítico, o especialista afirma que numa sociedade "em que tudo é 'light' é impossível haver rigor". As séries, diz Pinto da Costa, "são filmes, onde tudo se passa com muita rapidez, mas o que interessa focar é a metodologia e o espírito. E isso está lá, não está é o tempo".

Quanto aos meios (as batas brancas, equipamentos), limita-se a sorrir. "Claro que não temos todos os recursos e por isso a capacidade de resposta da Medicina Legal portuguesa é muito deficitária. Não é por acaso que os juízes, os procuradores da República e os advogados protestam. A Medicina Legal portuguesa tem de preparar-se para as grandes mudanças que a actualidade exige".

No entanto, ironiza, "não teremos nunca laboratórios todos limpinhos como nas séries, mas nesses não se trabalha". O que se pode fazer "é abrir a possibilidade das instituições privadas com credibilidade técnico-científica servirem os tribunais em igualdade de circunstâncias com as instituições do Estado".

O curso livre que está a decorrer esta semana, na Universidade Portucalense, aborda diversos temas da Medicina Legal "que não se resume a cortar corpos. Isso faz-se nos matadouros. A autópsia em si é um acto de grande responsabilidade social", advertiu o coordenador.

A investigação, resume, tem "quatro partes o exame do que se ouviu e sabe, o exame do local, o exame do corpo e por fim o exame de tudo o que foi recolhido no local. Só assim se poderá chegar a uma conclusão", rematou.

Escoriações foram a prova

"A priori" tudo indicava que o homem teria morrido por ter caído de por uma ribanceira, porque se tinha desequilibrado, conclusão apontada também pelo seu passado alcoólico. Durante a autópsia, "verificou-se a existência de duas escoriações lineares, paralelas e no abdómen, cuja produção não era explicada. Mas poderia ser aceitável se no local existisse alguma superfície com duas saliências", explicou José Pinto da Costa.

Surgindo a dúvida, "fiz o exame ao local e não se encontrou qualquer pormenor que explicasse a existência das escoriações", acrescentou.

Esta informação foi transmitida à investigação policial. "Com este novo dado, voltaram a abordar aquele que tinha sido o primeiro a encontrar o corpo, que acabou por confessar que o tinha morto à pancada, com um gadanho".

A arma usada correspondia "às escoriações da vítima e assim se fez a justiça convencional. O assassino foi condenado por homicídio". Mas, acrescentou o professor, "só porque não foi uma autópsia 'light'".

fonte: http://jn.sapo.pt/paginainicial/interior.aspx?content_id=696000

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