quinta-feira, 5 de maio de 2011

CSI é "um inferno" que distorce investigação real

2011-01-30

As séries de investigação criminal têm levado muitos jovens a seguir esta via, mas o CSI é "um verdadeiro inferno" para quem ensina ou aplica no terreno técnicas como o 'profiling' (criação de perfis), pois distorce a essência deste instrumento contra o crime.
"Tudo é falso. As séries de televisão são um problema muito grave com que temos de lidar, porque as pessoas vêm ter connosco com ideias distorcidas", disse à Lusa Francisca Rebocho, mestre em ciências forenses.

Esta docente da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Fernando Pessoa diz que, "desde que o fenómeno CSI se soltou, soltou-se o inferno".
Na formação que dá nesta área, Francisca Rebocho começa por esclarecer sobre a aplicabilidade destas técnicas em Portugal, onde a realidade é muito diferente da passada nas séries de investigação criminal, que reúnem legiões de milhões de fãs em todo o mundo.

Estas séries, esclarece, "são fantasiosas e puro entretenimento", mas "as pessoas baralham tudo e acreditam que, após receberem formação, vão trabalhar em laboratórios sofisticadíssimos e ir para o terreno".

Apesar de diferentes do fenómeno CSI, as técnicas de investigação criminal como o 'profiling' - técnica forense que visa traçar o perfil do criminoso a partir da cena do crime - são reconhecidas como uma ajuda aos investigadores criminais.

Os 'profilers' são, no entanto, "pessoas normais" que adquirem uma formação e não seres especiais, com características fora de série, como a capacidade de ler a mente do criminoso, como algumas séries transmitem.

Na prática, desde sempre que os investigadores criminais recorrem a técnicas do género, com o mesmo objectivo: chegar à origem do crime e ao seu autor.

Barra da Costa, inspector-chefe da Polícia Judiciária e criminologista, está a especializar-se em "perfis de homicídios múltiplos" e prepara-se para apresentar um trabalho em que vai "tentar demonstrar a utilidade dos perfis".

O criminologista revelou que, depois de apurar qual o estado da arte do 'profiling' a nível mundial, vai trabalhar nos estudos de 'profiling' realizados até hoje e aplicá-los a um caso concreto: o estripador português.

Sobre técnicas como o 'profiling', o investigador lembrou que "os psicólogos nunca estão na cena do crime", mas reconheceu que "os polícias conseguem fazer o trabalho dos psicólogos".

"Não basta a teoria. O ideal é saber alguma coisa de investigação criminal e complementar com estudos académicos", defendeu.

Este criminologista reconhece, contudo, que estas técnicas podem ajudar a polícia, nomeadamente a referenciar níveis de personalidade de uma testemunha, por exemplo.

"Se os psicólogos lerem os relatórios, virem os vestígios do terreno e fizerem um perfil, podem chamar a atenção para pequenos pormenores como erros ortográficos ou outros que indiciam características da pessoa, física e não só", disse.

Fernando Almeida, presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Psicologia de Investigação, disse, por sua vez, que "o ideal" será "juntar a teoria à prática".

Este especialista não duvida que técnicas como 'profiling' têm "a sua utilidade", considerando que "há vários aspectos que podem ajudar a investigação criminal".

fonte: http://www.jn.pt/PaginaInicial/Policia/interior.aspx?content_id=1770884&page=-1

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